Fabricante de cartões também vai investir R$ 30 milhões para ampliar em mais de 10% a capacidade produtiva na fábrica de Limeira (SP)
Tradicional fabricante brasileira de papel cartão usado em embalagens do tipo cartucho, a paulista Papirus decidiu seguir adiante com um investimento de R$ 30 milhões, entre 2021 e 2022, para ampliar em mais de 10% a capacidade produtiva na fábrica de Limeira (SP). A expansão, porém, não será suficiente para atender à crescente demanda de embalagens de papel no médio e longo prazos e a empresa já trabalha em um novo projeto, que pode englobar a construção de mais uma máquina de cartão e terá foco em uso de fibra reciclada e economia circular.
Parte dos recursos virá de empréstimos bancários e outra parte, via Finame. Com o investimento, a capacidade de produção subirá de 110 mil toneladas no ano passado para 123 mil toneladas por ano em 2022. Antes disso, a fábrica já deverá ter condições de produzir 115 mil toneladas anuais mediante uma primeira rodada de ajustes.
A parada para manutenção que permitirá esse incremento intermediário tem sido adiada desde janeiro, por causa da demanda aquecida. A previsão mais recente é que o evento ocorra entre o fim de abril e o início de maio, por causa dos contratos já renegociados com fornecedores, embora a expectativa seja de continuidade do cenário positivo ao menos até junho.
O plano de investimento de curto prazo é embalado pelo desempenho positivo dos negócios apesar da pandemia de covid-19, que num primeiro momento levou justamente ao adiamento do projeto de R$ 30 milhões. Com vendas mais fortes que o esperado no primeiro semestre, resultado de uma estratégia que combinou aumento das exportações entre março e abril e depois foco no mercado doméstico, o conselho de administração sentiu-se confortável para aprovar a liberação dos recursos, conta o diretor comercial e de Marketing e co-CEO da Papirus, Amando Varella.
A saída temporária da China do mercado global de cartões, por causa do “lockdown” naquele país, abriu oportunidades de exportação em um momento de forte recuo da demanda doméstica. Assim, se em 2019 as vendas domésticas absorveram 93% da produção da Papirus, as exportações chegaram a responder por 45% do volume produzido entre abril e maio de 2020 – permitindo à empresa capturar também o aumento dos preços internacionais em dólar e a desvalorização do real.
A reação da demanda doméstico no fim do segundo trimestre, reflexo da desestocagem ao longo da cadeia de cartões e do crescimento de segmentos que usam embalagens feitas com esse tipo de papel, como o delivery de alimentos, manteve o ritmo de negócios no segundo semestre e a Papirus encerrou 2020 com receita bruta de R$ 487 milhões, alta de 12% frente a 2019.
Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), que representa os fabricantes de papéis e celulose no país, a demanda de cartão alcançou 630 mil toneladas em 2020, alta de 6,4% ante 2019, frente a crescimento médio de 0,9% nos anos anteriores. Na Papirus, a melhora de desempenho veio combinada a redução da dívida de curto prazo, também contribuindo para a aprovação do investimento. Em dezembro, esses compromissos somavam R$ 8 milhões, contra R$ 34 milhões um ano antes.
Para 2021, a previsão é de novo crescimento no faturamento da Papirus, para R$ 538 milhões. O mercado interno, afirma Varella, segue comprador e a empresa tem estendido prazos de entrega nas exportações para atender aos clientes locais, inclusive porque as margens são melhores do que na exportação. “Há uma impressão de escassez de embalagens de cartão porque os estoques de segurança ainda não foram recompostos e isso deve continuar nos próximos meses. Mas não há risco de desabastecimento por falta de embalagem”, diz.
O aumento dos custos de produção, decorrente da valorização das aparas e da celulose e do impacto da desvalorização cambial nos insumos, levaram a empresa a anunciar, no fim do ano passado, reajuste entre 8% e 10%. Tradicionalmente, as fabricantes de cartões trabalham com reajuste anual e é incomum que haja aumentos intermediários. Mas se os insumos permanecerem em ascensão, uma nova rodada não está descartada, diz o executivo.
O projeto de longo prazo é mais ambicioso, mas ainda não há definição de escala. O que está claro é que o crescimento se dará com valorização da reciclagem e da economia circular. “Nossa aposta é que o mercado vai valorizar cada vez mais o uso dos resíduos de papel”, afirma Varella. A empresa já utiliza uma combinação de fibra reciclada (aparas) e fibra virgem em seus produtos e tem trabalhado para validar a cadeia de coleta de resíduos pré e pós-consumo. A ambição é permitir que, no futuro, por meio de um QR Code nas embalagens o consumidor acesse informações sobre o papel utilizado.
Fonte: Valor Econômico