
RESPONSÁVEL: Equipe Two Sides Brasil 22/02/2021
Fabricantes caminham para registrar recordes também em janeiro e fevereiro deste ano
Com nove meses de expedição recorde, a indústria brasileira de embalagens de papelão ondulado viveu em 2020 o melhor ano de sua história. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) nacional parece ter encolhido 4,5%, segundo as projeções mais recentes, as expedições de caixas, chapas e acessórios cresceram 5,5%, para 3,8 milhões de toneladas, segundo a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel).
Turbinado pelo avanço do comércio eletrônico, que cresceu ainda mais com a pandemia de covid-19 e fortaleceu o consumo da chamada “embalagem de embalagem”, o ritmo de expansão se manteve na virada para 2021. O setor caminha para registrar volumes históricos também em janeiro e fevereiro, e no acumulado do ano. “A indústria está lotada”, diz a presidente da Empapel, que nasceu no fim do ano passado a partir da “reciclagem” da antiga Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Gabriella Michelucci.
A rápida recuperação do consumo após a chegada da pandemia ao país fez com que a demanda de embalagens crescesse bem acima do esperado, pegando desprevenidos fabricantes e compradores – a produção de embalagens é feita sob encomenda e novos pedidos praticamente cessaram entre o fim de março a abril, primeiro momento da crise desencadeada pela covid-19.
Isso se refletiu na dilatação dos prazos de entrega, que permanecem distantes dos níveis normais. Se antes os pedidos eram atendidos diariamente ou em até 30 dias, hoje o prazo mínimo está em 30 dias e não há previsão de normalização antes do segundo trimestre.
A Empapel monitora também os estoques de produtos acabados na indústria e no varejo, e a percepção é que seguem abaixo dos níveis desejáveis, um indicativo de que a demanda seguirá aquecida no curtíssimo prazo. “Toda embalagem que o setor fornece hoje para a indústria é venda direta ao varejo, e não recomposição de estoques”, diz Gabriella. Em dezembro, quando tradicionalmente começa a ocorrer acomodação nos pedidos, as expedições saltaram 11,1%, para 318,9 mil toneladas, marcando a primeira vez de volume superior a 300 mil toneladas no último mês do ano.
O comércio eletrônico já vinha ganhando espaço nas vendas do setor, mas a pandemia acelerou essa tendência. Na Klabin, maior fabricante de papéis para embalagem e de embalagens de papelão do país, as vendas diretas para o e-commerce mais que dobraram em 2020. A força desse mercado, e a avaliação de que essa é uma tendência que veio para ficar, levaram a companhia a traçar uma estratégia dedicada para a área, consolidando suas iniciativas no “e-Klabin”.
“Acreditamos que a embalagem deve deixar de ser apenas um produto para transporte para também agregar valor ao que for transportado”, diz em nota o diretor de Embalagens, Douglas Dalmasi. O “e-Klabin” está estruturado em três frentes, uma delas dedicada a marcas tradicionais que pretendem amplia presença no varejo online e outra, a marketplaces. A terceira frente compreende o “Klabin ForYou”, um marketplace voltado aos clientes de pequeno e médio portes que buscam uma solução de papel customizada.
Conforme Gabriella, que também é diretora de papelão ondulado da Klabin, a Empapel espera estar apta para medir o percentual de vendas da indústria de embalagens que vai para o comércio eletrônico já em 2021. Antes da pandemia, esse canal representava pouco mais de 5% das vendas totais do varejo, mas alcançou um pico de 12% com a covid-19. “Pode haver alguma acomodação mais adiante, mas não nos níveis vistos antes da pandemia”, afirma a executiva. Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), 11,5 milhões de pessoas realizaram sua primeira compra online entre abril e setembro, engrossando o número de consumidores que utilizam o canal digital no país.
A pandemia trouxe também pressão de custos. Cerca de 70% da fibra utilizada nas embalagens de papel é reciclada e as medidas de distanciamento social interromperam a coleta seletiva e afetaram a atividade de catadores e aparistas. Houve retomada da operação nessas áreas, mas ainda não no ritmo do pré-covid-19. Como resultado, o preço das aparas disparou. As fabricantes de embalagem estão repassando o aumento de custos, mas com defasagem. Há pressão ainda do câmbio e da valorização das commodities – o amido de milho, por exemplo, é usado na produção de cola para embalagens.
O crescimento orgânico do mercado e a substituição de materiais de origem fóssil também contribuem para as perspectivas positivas do setor. Usado no passado como embalagem de produtos da linha branca, o papelão perdeu espaço para o plástico e o EPS (Isopor) ao longo do tempo e está recuperando mercado – o papel já é usado para embalar refrigeradores, por exemplo.
Para 2021, a Empapel projeta expansão de 4,9% nas expedições de papelão ondulado, no cenário moderado, com altas de 5,2% no primeiro trimestre e de 13,9% no trimestre seguinte, segundo estudo da entidade em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE).
Mesmo com o forte desempenho visto no segundo semestre – em setembro, as expedições de caixas e chapas chegaram a subir 15,6% na comparação anual -, a expectativa é de expansão na segunda metade deste ano, com alta de 1,8% no terceiro trimestre e de 0,2% nos três últimos meses. No cenário otimista, o volume anual expedido pode ser até 6,6% superior.
Fonte: Valor Econômico
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