RESPONSÁVEL: Equipe Two Sides Brasil 04/01/2021
Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) registra projeções de aportes de R$ 35,5 bilhões até 2023. Setor é conhecido por gerar matéria-prima reciclável, reutilizável e biodegradável
Uma das matérias-primas mais produtivas para a indústria, a madeira já se faz presente no dia a dia das pessoas por meio de papéis, embalagens, móveis e muitos outros. No entanto, ela tende a ganhar ainda mais relevância com investimentos da ordem dos R$ 35,5 bilhões – previstos até 2023 – voltados para novas fábricas, expansões, florestas e ciência e tecnologia.
Esses vultuosos aportes demonstram a consistência dos negócios e a confiança no futuro do setor. Com uma visão moderna, as companhias dessa indústria vislumbram, além de resultados financeiros, um olhar cuidadoso para o meio ambiente e as relações humanas, o que torna a cadeia de base florestal brasileira uma referência para o mundo.
“Trata-se de uma indústria sólida. A sustentabilidade, que sempre foi um pilar central nos negócios do setor de árvores cultivadas, torna este um negócio ainda mais seguro e atrativo, pois atende aos anseios da sociedade moderna, mais consciente de questões ambientais”, afirma Paulo Hartung, presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), que representa 47 empresas e dez entidades estaduais de produtos originários do cultivo de árvores plantadas. “O setor tem um cuidado especial em cada etapa de sua cadeia, desde o plantio de árvores para fins comerciais até a entrega do produto nas mãos do cliente”, completa o executivo.
A partir da madeira são desenvolvidos 5 mil produtos e subprodutos que fazem parte do cotidiano dos consumidores. Atualmente, a extensa lista envolve embalagens de papel, livros, cadernos, papel toalha, papel higiênico, lenços, fraldas, móveis de madeira e pisos laminados, por exemplo, além de equipamentos de proteção para a saúde, como máscaras cirúrgicas, aventais e toucas hospitalares.
Hoje, o Brasil possui 9 milhões de hectares plantados de eucalipto, pinus e demais espécies para fins produtivos. “O setor planta, colhe e replanta, geralmente em áreas antes degradadas pela ocupação humana”, lembra Hartung.
O zelo com os recursos naturais está enraizado no setor. Uma indústria que, de fato, cuida do meio ambiente e, inclusive, possui 5,9 milhões de hectares destinados para conservação, entre Área de Preservação Permanente (APP), Área de Alto Valor de Conservação (AAVC), Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e Reserva Legal (RL). Trata-se de uma área maior que o estado do Rio de Janeiro, por exemplo.
Somadas, árvores cultivadas e áreas naturais conservadas removem ou estocam 4,48 bilhões de CO2 equivalente, um dos gases causadores do efeito estufa.
Atenta e respeitando os mais diversos elos da cadeia, a indústria de base florestal é chancelada pelos principais selos internacionais de certificação, como Forest Stewardship Council (FSC), Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC)/Cerflor e a International Organization for Standardization (ISO), que atestam manejo correto, cuidado com o meio ambiente e respeito às comunidades vizinhas.
Investimentos a todo vapor
Mesmo diante de uma das maiores crises já vividas pelas atuais gerações, o setor continua crescendo. O montante, que já está sendo investido ou tem previsão de investimento até 2023, está na casa dos R$35,5 bilhões, praticamente o dobro dos R$ 18 bilhões investidos no período entre 2016 e 2019.
Os casos de empresas do setor que apostam em novas instalações, ampliação de fábricas e investimento em pesquisa e desenvolvimento se multiplicam.
Por exemplo, a fábrica de embalagem de papel de WestRock, em Três Barras (SC), passa neste momento por um processo de ampliação, resultado do investimento de R$ 1,3 bilhão. “Quando a expansão estiver operando, estabelecerá novos parâmetros em relação à eficiência e à produtividade”, explica Jairo Lorenzatto, presidente da WestRock no Brasil.
Por sua vez, a Berneck, em Lages (SC), está aplicando mais de R$ 1 bilhão em uma nova unidade para produção de painéis de madeira MDF, e uma das mais modernas serrarias para pinus da América Latina. A fábrica terá capacidade de produzir 1,03 milhão de metros cúbicos por ano. “As obras estão a pleno vapor, com maquinários importados chegando para iniciarmos a montagem no ano que vem para o startup”, afirma Graça Berneck Gnoatto, diretora comercial e de marketing da Berneck.
Já a Klabin entrou na nova fase do Projeto Puma II, fábrica integrada de celulose e papel, com R$ 9,1 bilhões aplicados em Ortigueira (PR), e previsão para entrar em operação em 2021. “Trata-se de um projeto que alia inovação a tendências globais de consumo consciente. A nova fábrica vai transformar a empresa na primeira do mundo a produzir o papel Eukaliner, um kraftliner inédito no mercado, que poderá ser usado em aplicações diversas”, informa Cristiano Teixeira, diretor-geral da companhia.
O produto é resultado de uma série de testes que leva ao mercado um papel kraftliner feito 100% com eucalipto (fibra curta), com menor gramatura e que mantém a resistência necessária com ganhos em sustentabilidade, qualidade de impressão e logística, por exemplo.
A Bracell, por sua vez, conduz, neste momento, o projeto Star, um investimento da ordem de R$ 8 bilhões que deverá transformar a fábrica de Lençóis Paulistas (SP) em híbrida, com capacidade de produzir celulose comum e celulose solúvel, esta última uma matéria-prima versátil, alternativa àquelas de origem fóssil. Sua utilização faz com que produtos comuns do dia a dia sejam mais verdes, como roupas, armação de óculos de acetato, pneus, cosméticos e até alimentos.
Tripé da sustentabilidade
A LD Celulose, joint venture da Duratex com a Lenzing, no Triângulo Mineiro, inicia sua produção em 2022 já como uma das maiores e mais competitivas fabricantes de celulose solúvel do mundo. “Toda a produção da LD Celulose será utilizada para fabricação de viscose, fibra têxtil cada vez mais utilizada na produção de tecidos”, afirma Henrique Haddad, vice-presidente de administração, finanças e RI da Duratex. “Além de unir a expertise de duas companhias que são referência em suas áreas, a produção será localizada no Brasil, a maior potência mundial para criação de florestas.”
A CMPC, maior indústria do Rio Grande do Sul, leva adiante seu case voltado para ações ligadas à indústria circular. A companhia reutiliza quase 100% dos resíduos produzidos por ela mesma. “Nossas práticas de ESG fazem parte da nossa rotina operacional, do nosso negócio e do nosso propósito. Na nossa unidade industrial, por exemplo, desenvolvemos uma iniciativa de bioeconomia em um espaço de 99 hectares que passamos a chamar de Hub CMPC de Economia Circular, responsável por transformar 99,8% das 600 mil toneladas de resíduos gerados por ano a partir da produção de celulose da empresa”, afirma o diretor-geral da CMPC, Mauricio Harger.
“Acreditamos que companhias sustentáveis, como as de celulose e papel, serão devidamente reconhecidas pelos consumidores. O setor é um dos que mais se destaca no equilíbrio do tripé da sustentabilidade”, lembra Rodrigo Davoli, presidente da International Paper, empresa de referência ba área. Um hectare de floresta de eucalipto da IP Brasil, por exemplo, capta 51 toneladas de C02 da atmosfera a cada ano.
A Suzano, por sua vez, vai investir até R$ 4,3 bilhões ainda em 2020. A manutenção do aporte previsto para o ano faz parte do compromisso da maior fabricante de celulose do mercado mundial em prover novos produtos a partir da árvore, uma fonte renovável, reciclável e biodegradável, o que permitirá à sociedade migrar o consumo de produtos fósseis para os de fibra. “Entendemos que nosso negócio tem um papel fundamental na transformação do mundo em que vivemos. A preocupação com a redução da emissão de carbono e o impacto dessas emissões no clima é crescente”, declara o presidente da empresa, Walter Schalka.
Em Limeira, no interior de São Paulo, a Suzano tem uma unidade voltada para a lignina, matéria-prima antes considerada resíduo e utilizada para geração de energia limpa, que ganhará novos usos. A companhia também possui parcerias com startups, a exemplo da finlandesa Spinnova, para desenvolvimento de produtos a partir da nanocelulose.
Tecnologias do futuro
Para os próximos anos, o setor prevê continuar trabalhando para, com as árvores cultivadas, gerar uma nova capacidade de desenvolver produtos recicláveis e biodegradáveis. Entre os materiais em desenvolvimento estão os já citados, lignina e nanocelulose.
A lignina é a nova meninas dos olhos da indústria, que percebeu que pode gerar um alto valor agregado: por meio de muita pesquisa, está chegando a uma série de possibilidades de aplicações que substituirão matérias-primas que impactam o meio ambiente. Dessa maneira, a lignina pode ajudar a tornar produtos finais mais sustentáveis, como o concreto e o termoplástico, utilizado em partes internas de veículos. O material poderá estar presente também em bio-óleos.
Já a nanocelulose, resultado da divisão da celulose em partículas muito menores, poderá ser utilizada por indústrias têxtil, eletrônica, de construção civil, automobilística, aeronáutica e até alimentícia.
A celulose nanocristalina, por exemplo, estará presente na tela do celular. Na indústria da moda, a celulose microfibrilada pode provocar uma revolução nos seus fios têxteis, que utilizarão até 90% menos água e menos químicos.
“Trata-se de uma indústria que olha para o futuro e sabe ler os anseios do consumidor”, afirma Paulo Hartung. “Ela tem investido em ciência e tecnologia para utilizar o máximo possível da madeira cultivada, proporcionando produtos mais verdes e matéria-prima alternativa àquelas de origem fóssil.”
As árvores cultivadas estão sempre ao nosso lado. Desde os primeiros dias, elas acompanham nossas jornadas e nos ajudam a escrever nossas histórias. Para saber mais sobre elas, clique aqui.
Artigo original 02/12/2020 – Valor (Globo.com)