RESPONSÁVEL: Equipe Two Sides Brasil 27/08/2020
“O que não está escrito, não existe.”
Se foram os fenícios os que cunharam essa frase, nunca saberemos, mas hoje ela continua ainda muito mais válida. Por milhares de anos a humanidade vinha registrando com segurança as suas histórias e as suas emoções através de símbolos, carácteres ou imagens, em suportes físicos perenes como são as pedras, as tábuas, e nos últimos dois mil anos em planos a base de celulose, o papel.
Com a chegada do mundo virtual imprudentemente abandonamos os antigos e seguros suportes, e passamos a registrar e armazenar praticamente tudo em um suporte que não vemos, que não podemos pega-lo nas mãos, que é completamente inseguro e instável: o encantador e glamoroso mundo virtual.
Durante o último encontro de famílias coreanas apartadas há quase setenta anos, as fotografias físicas anteriores as separações foram as principais protagonistas do evento, provocando grandes emoções; as mesmas emoções com certeza não aconteceriam se fossem elas vistas nas telas frias de um computador ou celular. Isso se elas ainda existissem o que é muito improvável,
pois a velocidade das atualizações das versões dos “software” e dos “hardware”, torna arquivos incompatíveis ou definitivamente perdidos em poucos anos, imaginemos em décadas. Universidades americanas estimam que, mais de 30% do conhecimento criado por elas nos últimos quarenta anos, arquivado em múltiplos suportes virtuais, esteja já inacessível ou
definitivamente perdido.
Muitos dos quem me leem nesse agora, já lamentam como eu a perda de várias imagens de valor emotivo incalculável, simplesmente por elas não terem sido impressas; mas guardados em disquetes ou outros suportes digitais que já se deterioraram, ou mesmo se intactos, não ser mais possível acessá-los, seja pela descontinuidade dos aparelhos leitores e da atualização dos softwares.
Se registrar e arquivar momentos emotivos significativos da vida, confiando totalmente no mundo virtual já é um risco gigante, do lado financeiro não ter os registros físicos (papel) dos seus recursos, impressos com frequência e bem guardados, ultrapassa a linha da imprudência. Se nessa manhã o Governo lançar algum pacote econômico travando todos os depósitos nos bancos, tipo um plano Collor, 99,99% da população não terá um só pedaço de papel para provar junto ao judiciário, eventuais divergências de valores dos seus ativos nos dois distintos momentos. O que a instituição financeira apontar ser o valor verdadeiro, terá que ser aceito pela outra parte bovinamente.
Num mundo cada dia menos ético, esse cenário por si só já é assustador.
“Quod non est in actis non est in mundo – O que não está nos autos não está no mundo”, diziam os romanos. Faltou a eles acrescentar: no mundo real, não no virtual.
Enquanto não for possível se embrulhar e carregar no bolso uma sequência de “bits”, até mesmo que por segurança da sobrevivência, devemos imprimir e deixá-lo bem próximo das nossas mãos, o que nos é relevante.
Por Antonio Leoncio Filho – Atuou muitos anos na Xerox nas áreas de Engenharia e Desenvolvimento, responsável pelos grandes lançamentos dos equipamentos que fizeram a transição digital no Brasil.